Nós somos o que comemos!
Afinal não devemos ter medo de ingerir pão e ovos. Este é um mito que podemos ajudar a desconstruir no Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro). A Hall Paxis conversou com Ana Margarida Ramalho, nutricionista da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo. Esta especialista explica-nos que é um erro crasso singirmos a nossa alimentação diária ao pequeno almoço, almoço e jantar, pelo que devemos todos ganhar o bom hábito de apostar nas refeições intercalares. Ah, e a dieta mediterrânica pode ser uma excelente fonte de inspiração para todos. Este é apenas um resumo dos ensinamentos que nos deixa, em seguida, esta especialista em nutrição.
O Diretor Geral da Saúde, o médico Francisco George afirmou, recentemente, que metade das causas de morte em Portugal estão relacionadas com alimentação. Concorda?
Claramente. O Relatório da Saúde de 2015 diz-nos claramente que os hábitos alimentares são o principal fator de redução do nosso tempo de vida. Para alterar esta situação o grande desafio que temos pela frente passa por alterar os nossos hábito alimentares. Sabemos que a obesidade é a doença do século XXI mas a diabetes, o colestrol, a hipertensão estão relacionadas com a alimentação.
Quer identificar-nos algumas regras básicas que permitam que um cidadão saudável possa ter bons hábitos alimentares?
Eu sou defensora da dieta mediterrânica. Não rares vezes a pergunta que os pacientes me colocam tem a ver com a identificação do que podem e do que não podem comer. E ficam muito surpreendidas quando lhes digo que podem comer de tudo. As pessoas ainda preferem que lhes seja dito o que não podem comer, como se de uma ordem de tratasse.
A verdade é que podemos comer de tudo, sendo certo que devemos ter em linha de conta as quantidades, a qualidade e perceber que existem produtos mais prioritários, nomeadamente quando comparamos produtos insdustrializados e produtos menos processadados. Por exemplo, quando são obrigadas a escolher entre bolachas e pão, as pessoas preferem as bolachas. É muito importante variar a alimentação, se como pão não devo comer batatas ou arroz na mesma refeição. Mastigar devagar é muito importante e o ter horas para comer é outro dos grandes erros.
Importa-se de explicar melhor essa ideia...
Estou a referir-me a saltar refeições. As pessoas acham que se comerem poucas vezes ao dia faz com que percam peso. É verdade que pode acontecer numa fase inicial, mas com o desenrolar do tempo o nosso metabolismo começa a poupar. Não lhe estamos a fornecer tanta comida como ele precisaria e o corpo entra em mode de poupança. Precisamos de dar energia ao nosso corpo constantemente.
Está a dizer-nos que é errado restringir a nossa alimentação às refeição principais?
Sim. Nós aprendemos na escola que as refeições principais são o pequeno almoço, o almoço e o jantar. Mas queria passar a mensagem de que as refeições intercalares são muito importantes, são aquelas que de uma forma indireta nos vão a controlar as quantidades na refeição principal e são aquelas em que forneço mais energia ao meu organismo. Não precisam de ser grandes refeições! Imagine que comi uma fatia de pão e um copo de leite ao pequeno almoço, a meio da manhã é desejável que coma metade de uma fatia de pão e meio copo de leite, por exemplo.
Já percebi que podemos comer de tudo e que o segredo está nas quantidades. Importa-se de explicar como é que um cidadão comum, sem formação em nutrição, pode facilmente perceber quais são as quantidades corretas?
Imaginemos um prato dividido em três partes iguais. Numa das partes colocamos as hortícolas, na outra a carne o peixe ou os ovos e na terceira parte tivermos os acompanhamentos, teremos um prato equilibrado. Se a pessoa quiser perder peso então deve colocar hortícolas em metade do prato, um quarto do prato com carne, peixe ou os ovos e no outro quarto de prato coloca os acompanhamentos (arroz, massa ou batata).
É bom intercalar entre carne e peixe?
Sem dúvida. Nós temos um excesso de consumo de carne e um deficiente consumo de peixe. Há um outro mito em torno dos ovos e as pessoas têm medo de utilizá-los na sua alimentação. Por exemplo, se falarmos em carne aquilo que é recomendável para um adulto é o consumo de 100 gramas, ou seja, um bife do tamanho da palma da nossa mão.
Há pacientes que confidenciam não ter dinheiro para cumprir uma alimentação equilibrada e variada?
Sim, nós temos uma população com algumas dificuldades económicas. Mas esse é também o nosso trabalho, ensinar as pessoas que do pouco às vezes conseguimos fazer muito e na alimentação esta regra funciona! As pessoas continuam a gastar muito dinheiro em alimentos que não deviam consumir e gastam menos nos alimentos que são essenciais. Em vez de estarmos sempre a gastar dinheiro na carne, podemos variar e fazer ovos mexidos, omeletes, etc. Não temos a necessidade de comer todos os dias carne e peixe, até porque as recomendações dizem-nos que devemos comer, pelo menos duas vezes por semana, ovos, feijão ou grão e depois as outras refeições intercaladas entre a carne o peixe.
Tenho cada vez mais a convicção de que devemos seguir uma dieta mediterrânica, com todas as tradições que temos na nossa região. Somos uma região rica em cereais, azeite, hortícolas ou a fruta.