"Os jornalistas que exercem no distrito de Beja, sem exceção, são uns verdadeiros heróis"
Paulo Barriga é jornalista e diretor do mais importante e influente jornal regional - o Diário do Alentejo. No Dia Nacional dos Jornalistas quisemos saber qual é o seu pensamento a respeito do estado desta arte na região. E o nosso interlocutor não se cansa de afirmar que esta é a melhor profissão do mundo e que os jornalistas que a exercem no distrito "são uns verdadeiros heróis" que "trabalham no fio-da-navalha".
No Dia Nacional dos Jornalistas creio que é interessante compreender qual é a realidade em que vivem estes profissionais. Na sua opinião continua a ser aliciante abraçar esta carreira?
Não sou propriamente um otimista deslumbrado, mas continuo a achar que quem se mete nisto do jornalismo por vocação acaba por abraçar a melhor profissão do mundo. É um facto que os tempos não estão de feição para esta prática e que as fronteiras da deontologia profissional começam a ser atacadas com frequência, principalmente por questões ligadas à concentração dos títulos e dos alvarás dos órgãos de comunicação social em determinados grupos económicos e também por razões de degradação das condições de trabalho no interior das redações. Mas penso que o tempo trará à superfície o bom jornalismo que ainda se faz em Portugal e que esse, sim, sobreviverá à chamada pós-verdade.
Não raras vezes o trabalho dos jornalistas tende a incomodar os poderes instalados. É ainda mais complicado realizar essa tarefa no contexto regional?
Uma das funções do jornalista, para além da primordial que é a de servir de mediador credível entre o acontecimento e a notícia que chaga ao público, é precisamente a de vigiar os restantes poderes que interagem na sociedade. Os norte-americanos têm uma expressão para isso, “watchdogs”. Por conseguinte, incomodar os poderes, faz parte do processo e as pessoas estão á espera que isso a aconteça. Agora, sim, no jornalismo de proximidade essa tarefa toma contornos por vezes épicos… Ou seja, se o zumbir da mosca ao longe já incomoda, imagine ao perto…
Qual é o estado da arte no distrito de Beja. Temos bons jornalistas, a fazer um bom trabalho nos meios regionais?
Tenho para mim que os jornalistas que exercem no distrito de Beja, sem exceção, são uns verdadeiros heróis. Cumprem as suas obrigações profissionais e deontológicas em situações laborais nem sempre dignas para a prática da profissão e, em muitas circunstâncias, fazem trabalhos de excecional qualidade. Se falar do caso que melhor conheço, o “Diário do Alentejo”, posso dizer-lhe que nos últimos quatro a cinco anos fomos galardoados com perto de duas dezenas de distinções e de menções honrosas em prémios de reportagem de índole nacional. Penso que isso também é um sinal do “estado da arte” na região. Mas, continuo a dizer, também aqui há de tudo um pouco…
Os órgãos de comunicação locais, numa região onde o tecido empresarial é muito fraco, têm grandes dificuldades em sobreviver. Isso afeta o desempenho dos jornalistas?
Claro que afeta. O bom jornalismo é sinónimo de empresas de comunicação ou de entidades proprietárias saudáveis financeiramente. Fazer jornalismo no fio-da-navalha, pressionado pelas necessidades mais elementares, é entregar o ouro ao bandido e é um caminho aberto às derrapagens do ponto de vista ético e deontológico. Mas no nosso País, e em concreto na nossa região, a economia ainda não está o nível que todos desejaríamos…
Que diria aos jovens que em breve vão ter que escolher uma licenciatura. Continua a ser interessante enveredar pelas ciências da comunicação?
Neste momento, e com os condicionalismos que atrás referia, com a precaridade laboral e com o desmantelamento das redações, acaba por ser uma escolha profissional arriscada. Mas, num tempo de incertezas, que profissão se pode escolher e iniciar sem riscos associados? Penso que nesta, como em qualquer outra, a qualidade, o empenho a motivação dos jovens jornalistas irá ditar o seu futuro nesta que é, repito, a melhor profissão do mundo.