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Integrada na rede nacional Hall, esta imobiliária atua em todo o distrito de Beja.

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"O potencial de desenvolvimento que a actividade cinegética pode trazer ao Baixo Alentejo é extradordinário"

O Alentejo é por excelência a região do país que mais atrai os amantes da caça. A sua regulamentação e a organização, daí decorrente, conduziu ao aparecimento de bastantes reservas de caça com uma gestão “profissionalizada” e dinâmica, que tem contribuído para um movimento crescente em direcção a sul, sobretudo nas épocas de “pico”.

Convidámos hoje, para fazer parte do nosso painel, alguém profundamente conhecedor do mundo cinegético e que, connosco, fará uma reflexão acerca do peso desta componente, num Alentejo que se quer no caminho do desenvolvimento. José Manuel Graça dedicou a maior parte da sua vida activa à Banca, tendo sempre, em paralelo, devotado uma grande dedicação ao mundo da caça, actividade que lhe ocupa hoje a maior parte do tempo.



 

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1 – A sua paixão pela actividade cinegética leva-o a ter um vasto conhecimento desse mundo, que não tem partidos políticos nem clubes de futebol. Pode caracterizar-nos a actividade da caça actualmente?

A caça divide-se em dois tipos – maior e menor. Da caça maior fazem parte essencialmente os cervídeos, cujas populações crescem significativamente, e os javalis, que em determinadas zonas registam igualmente  um crescimento considerável, até em territórios que não eram comuns no seu habitat. Nos locais onde outrora abundavam, têm vindo a ser substituídos pelos veados, sendo que, e fruto da minha observação e experiência de campo, considero que estas duas espécies têm dificuldade em coabitar.

No que respeita à caça menor, composta por exemplo por perdizes, pombos, tordos, rolas, coelhos e lebres, entre outros, enfrentam-se algumas dificuldades, directamente  relacionadas com o seu repovoamento e que passo a explicar: “fazer perdizes” no campo é neste momento, praticamente impossível. Porquê? Porque existem espécies que impedem o seu crescimento e desenvolvimento, tais como as raposas, os saca-rabos os ginetes, em terra, e mais recentemente, por via aérea, as cegonhas, as garças brancas, as pegas, os corvos e os rabilongos, aves que dizimam os ovos e os perdigotos, e que se reproduzem a uma velocidade tal, que poderão assumir a figura de praga. Quanto à rola comum, não será possível um aumento da espécie enquanto não for autorizado o abate da praga da rola turca, que não coabita com outras, para além dos seus tradicionais “inimigos” (pegas, corvos, rabilongos e águias). Ultimamente  verifica-se  um crescimento significativo de uma outra espécie “ameaçadora”, e protegida – o corvo marinho - que dizima as barragens e ribeiras e a sua fauna piscícola, protegida por muitos ambientalistas.



2 – Existem no Alentejo bastantes reservas de caça, com características diferentes, mas com um número crescente de “adeptos”, sobretudo oriundos de outras regiões. Considera tratar-se de uma actividade que tem em si o poder de potenciar um desenvolvimento turístico para o Baixo Alentejo, embora direccionado?

O potencial de desenvolvimento que a actividade cinegética pode trazer ao Baixo Alentejo é extradordinário. Como principais factores menciono o clima, o tipo de reservas de caça, a orografia dos terrenos, as infraestruturas criadas, e obviamente a característica arte de bem fazer e de bem receber na região.  No entanto, lutamos com algumas dificuldades que limitam uma aposta maior no turismo cinegético estrangeiro, e que passo a explicar: conhecendo as regras da caça na Europa, onde frequentemente caço em países como a Dinamarca, Inglaterra, Escócia, Irlanda a Espanha, e tendo conhecimento da dificuldade em transportar armas de caça por avião, existindo inclusivamente companhias aéreas que não permitem o seu transporte, considero extremamente difícil conseguirmos conquistar o caçador estrangeiro. Porquê? Porque a actual lei das armas afasta de imediato a vontade das empresas organizadoras de caçadas, em promover a sua realização no nosso país, por não existir a figura do esmpréstimo de armas. Por um lado, o custo das Licenças é superior a qualquer um dos países que mencionei (125 euros/ano ou 65 euros/mês). Mas nem é este o principal factor. É-o sim, o transporte das armas, que torna moroso o check-in (cerca de duas horas a mais), sendo que também os critérios diferem de país para país, e inerente orgânica policial, tornando os aspectos burocráticos extremamente complexos. Existe ainda uma componente financeira, pois todo o serviço de legalização no transporte de armas de caça é pago através de taxas várias, que diferem entre as companhias aéreas. Por outro lado, existe uma outra condicionante, que é a obrigatoriedade da utilização  do cadeado de gatilho. Em nenhum dos países onde caço é utilizado, e nem se compreende o porquê desta imposição, pois os acidentes de caça decorrentes do seu uso são muitos, e infelizmente, bastantes vezes, fatais. Basta que o caçador se esqueça que deixou no cano da arma um cartucho ou uma bala, e ao guardar a arma na bolsa, o cadeado prima o gatilho. A responsabilidade individual tem forçosamente que existir na prevenção dos acidentes ligados à caça, mas este “adereço”, usado apenas em Portugal, na minha opinião, não vem conferir  acréscimo à segurança,  estando provado que potencia esses mesmos acidentes.



3 – É uma pessoa viajada e conhecedora da actividade noutros países. Estabelece algum paralelo com algum ou alguns deles, ou pelo contrário, considera estarmos ainda num patamar bem distante?

A resposta a esta questão entronca na anterior. Estamos muito distantes de outros países, quer nas práticas, quer na legislação vigente. Posso dar como exemplo a Inglaterra e a Escócia, países que se debatem com problemas de terrorismo bastante maiores do que nós. Nestes países, as empresas que organizam caçadas para estrangeiros, podem alugar armas para essas mesmas caçadas, evitando o seu transporte, bastando para tal enviar o cartão europeu de uso e porte de arma, com um mês de antecedência relativamente à data da caçada, para que a Scotland Yard avalie se o caçador tem ou não cadastro, e dar a respectiva autorização.  Desta forma, o caçador, além de não ter que se deslocar com as suas armas, tem ainda à sua disposição 8 a 10 tipos de armas de caça diferentes.

 

4 – Na sua opinião, o que falta fazer, ainda, para que a actividade cinegética possa considerar-se uma fonte de receitas e que, de alguma forma, possa contribuír para o desenvolvimento da economia local?  

Em primeiro lugar, e decorrente das respostas anteriores, considero ter forçosamente que existir uma alteração da legislação vigente, agilizando aspectos fundamentais para a atractividade do caçador estrangeiro, mantendo, evidentemente as questões de prevenção do terrorismo. Muitas vezes as leis são feitas por quem apenas está sentado numa secretária, sem ter perfeito conhecimento da actividade e do terreno, e das regiões em particular.  O legislador, deve saber de leis, mas deve igualmente estar informado, conhecer, e pisar o terreno, já para não falar do diálogo e negociações com as entidades responsáveis ligadas ao mundo cinegético.

Por outro lado, todos sabemos da existência dos lobbys fundamentalistas, fortíssimos e anti-caça. Fazem uma grande divulgação dos seus princípios nas redes sociais sem conhecer o campo e a natureza. Por vezes tecem afirmações menos correctas. Lembro-me, por exemplo, e muito recentemente, de uma entrevista a um responsável da Quercus por ocasião do aniversário da Ponte Vasco da Gama, onde ao ser questionado acerca da duplicação da população de flamingos nos últimos 20 anos, na zona da ponte,  prontamente respondeu que se a ponte não existisse, não sabia se essa população não teria triplicado ou quadriplicado … (utilizando um pouco de ironia, seria preferível não existir ponte, mas sim uma praga de flamingos?!...)

Ainda no campo da protecção da natureza, refiro de novo o corvo marinho.  Esta ave pesca/caça de tal forma assertiva, que dificilmente alguma espécie menor lhe escapa. Sublinho que estão aqui incluídas as rãs, pardelhas, saramugos e bordalos, que são espécies piscícolas quase em extinção e muito protegidas pelos ambientalistas. Acresce que existem concentrações de corvos marinhos em número superior a vinte em pequenas barragens, que acabam por dizimar a fauna piscícola.  Há que proteger a natureza sim,  mas há que ter uma visão global, e não catalogar os verdadeiros caçadores como matadores, pois são o campo e a natureza que ficam prejudicados.


5 – Considera que a região de Beja e do Baixo-Alentejo, em geral, tem condições para que se pense na actividade cinegética directamente ligada a um turismo específico, que possa traduzir-se em investimento e desenvolvimento?

Como já atrás referi, considero a região de Beja com um excelente potencial de desenvolvimento turístico, pese embora as alterações necessárias. Se esse turismo existir, terá qualidade, cultura própria, e a seu tempo poderá interferir com novos investimentos e infraestruturas, nomeadamente por parte de investidores privados.

 

6 – Se lhe fossem conferidos cinco minutos num programa televisivo para  dar a conhecer a região e o seu potencial de investimento, quais seriam as suas principais preocupações?

Defendo o campo e o Alentejo com a paixão de quem vive e se dedica a tempo inteiro a esse mesmo campo.  Os factores para investir são sobretudo o clima, a localização, a possibilidade de desenvolver infraestruturas, a cultura e a vontade de fazer por parte dos residentes.  Se forem concedidas condições para adequar os projectos de investimento, seja qual for a área, à realidade socio-económica da região, não descurando nunca as suas características inatas, considero estarem reunidas as condições para qualquer investidor poder fixar-se.

 

 

 

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