“Há uma via verde para o investimento em Beja”
Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, é o primeiro convidado da Hall Paxis a pronunciar-se sobre a estratégia de desenvolvimento para o território do alentejano.
ALENTEJO, UM AMANHÃ REINVENTADO é a designação do projeto Hall Paxis, através do qual se pretende ouvir a opinião de autarcas, empresários, personalidades da cultura e de outros sectores estratégicos. Mostrar que vivemos numa região de futuro, com imensas oportunidades e potencialidades, e onde investir é urgente, paralelamente a uma alteração na forma de estar e pensar as empresas, a sua sustentabilidade e, consequentemente, a esfera de acção e intervenção do cidadão comum, será o objetivo desta iniciativa da Hall Paxis.
Eleito em outubro de 2017, Paulo Arsénio aceitou conversar connosco, tendo sempre sublinhado que estamos a viver no concelho de Beja, um momento de viragem de paradigma. Há empresas e investimentos avultados a chegar ao território e é anunciada a criação de centenas de novos postos de trabalho, sobretudo relacionados com o sector aeronáutico e com a indústria transformadora de produtos agrícolas. O presidente do Município de Beja salienta que todos os investidores interessados em fixar os seus negócios na região são bem acolhidos no Gabinete de Apoio ao Investimento, e fala na existência de uma "via verde" eficaz para novos investimentos no concelho.
Durante a entrevista conversámos também sobre a clara intenção de revitalizar o centro da cidade, através de projetos que assentam no arrendamento a novas famílias e sobre a necessidade de se ter uma oferta cultural que ajude a potenciar a presença turística.
O atual executivo da Câmara Municipal de Beja colocou as matérias relacionadas com o desenvolvimento económico no topo das grandes prioridades da governança.
Nestes primeiros meses o que é que já foi possível realizar e começar a idealizar?
Tenho a consciência de que a nossa estratégia precisará de melhoramentos. Estamos ainda longe de atingir os objetivos a que nos propusemos, como será compreensível. Mas não posso deixar de referir que o nosso Gabinete de Apoio ao Investimento está com muito trabalho e teremos que reforçá-lo em número de funcionários. Têm vindo ter connosco um conjunto de investidores das mais diversas áreas, com intenção de investir na cidade e no concelho de Beja.
Temos em carteira um conjunto de projetos aos quais teremos que dar resposta a curto prazo. Os casos a que me estou a referir relacionam-se, sobretudo, ao nível da procura de terrenos adequados e a preços não especulativos, de maneira a permitir a instalação de novas unidades industriais. Neste ponto de vista, estamos em condições de assegurar que dentro de poucos anos assistiremos a um salto quantitativo no emprego em Beja, fruto destes novos investimentos.
Este Gabinete de Apoio ao Investimento surge como um serviço que acompanha estas manifestações de interesse. Como é que funciona?
Serve para acompanhar individualmente e com recurso a técnicos especializados todas as intenções de investimento que chegam à Câmara Municipal de Beja. E, sempre que esteja disponível, o próprio presidente da autarquia recebe e acompanha esses putativos investidores. Eu diria que neste momento há quase uma "via verde" para o investimento em Beja. A grande maioria dos empresários sentem, ao passar pelos nossos serviços, que conseguiram estabelecer uma relação de confiança com o Município. Isso é que é importante. Desse ponto de vista, entendo que estamos a trabalhar bem, embora os resultados nem sempre possam ser visíveis de forma imediata, serão visíveis com o passar do tempo.
Que tipo de informação é que estes investidores procuram junto da autarquia?
Sobretudo, procura-se informação relacionada com a disponibilidade de terrenos. Temos tido contacto de muitos investidores disponíveis para a aquisição de terrenos a preços comerciais. Infelizmente, muitos deparam-se com os preços especulativos praticados pelos proprietários dos respetivos terrenos. No sector da aeronáutica isso é particularmente notório. Ou seja, sempre que há a possibilidade de se vir a instalar uma empresa deste ramo, por se verificar uma subida injustificada do valor dos terrenos. Esta situação faz com que os operadores sejam obrigados a estudar outras opções, podendo a opção final não recair no concelho de Beja devido à especulação.
A Câmara Municipal de Beja está a fazer o seu papel, identificando terrenos privados e públicos de forma a facilitar essa instalação, dando a possibilidade aos empresários de mostrarem que trazem projetos sólidos e que vêm para criar emprego.
Há uma bolsa de terrenos que pertencem ao Estado, nas imediações do Aeroporto Civil de Beja. A que prazo poderão vir aa esta disponíveis para a instalação de empresas?
Existe um Plano de Expansão do Aeroporto, com 39 hectares que são do Tesouro e que pertenciam à antiga EDAB (Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja) e que são do Estado Português. A Câmara Municipal de Beja está interessada em adquirir esses terrenos.
Seria importante para regular o valor de mercado ?
Claro que sim. E além desses 39 hectares, existem mais 46 hectares que são propriedade de um particular, que poderão vir a ser importantes para empresas que se queiram instalar na zona do Aeroporto.
Depois, existe um conjunto de agroindustriais e comércio de vários ramos que se querem instalar em Beja, não propriamente na zona do Aeroporto, mas em parques industriais.
E temos reposta para essas manifestações de interesse?
Temos um parque que nos foi deixado de herança pelo anterior executivo, a Zona de Expansão Norte, onde vamos agora retomar as escrituras depois de as termos suspenso por falta de verbas para as infraestruturas. Neste momento concorremos a um aviso da CCDRA que nos permite aceder a verbas para infraestruturar nesse novo loteamento, com dinheiros da União Europeia, competindo ao Municipio de Beja uma comparticipação de 15 por cento dos dois milhões de euros necessários à obra. As escrituras que agora estamos a retomar com os empresários, referem que, caso não seja aprovada esta candidatura, serão os empresários a assumir 50 por cento do valor das infraestruturas, cabendo ao Município de Beja o investimento em falta. Nestas escrituras é consagrado o direito de reversão, ou seja, se a construção não tiver inicio no prazo de 24 meses e não terminar no prazo de 36 meses a Câmara Municipal de Beja tem o direito de voltar a adquirir esses terrenos.
Que projetos empresariais poderão vir a ser instalados nessa nova zona industrial? Falou em agroindustriais, mais especificamente...?
Acabámos de desbloquear todas as questões pendentes com vista à instalação, a título de exemplo, da Fairfruit. Este projeto estava a aguardar financiamento do IAPMEI, tendo sido concretizado no mês de Janeiro. Estamos a falar num investimento na ordem dos 14 milhões de euros e com a previsão de criação de 80 postos de trabalho.
Este será o projeto mais conhecido, mas depois temos também a Fertigal, um investimento espanhol relacionado com adubos. Vamos agora finalizar esta escritura com a cedência de mais 5 mil metros quadrados, que completam uma faixa de ligação à estrada. E vamos avançar, em breve, com mais duas escrituras de outros investimentos muito relevantes.
Ainda não posso identificar alguns dos investidores, mas permita-me que diga que vamos ter, naquela zona, investimentos muito surpreendentes para a cidade e para o concelho de Beja, estimando-se, para aquela nova zona industrial, a criação líquida de 250 novos postos de trabalho.
Está a referir-se à indústria da transformação, correto?
Estamos a falar do sector da transformação. São investimentos relacionados, sobretudo, com a transformação de produtos agrícolas, mas também existem investimentos relativos à metalomecânica e outros.
Quando serão visíveis os resultados práticos de toda esta aposta no desenvolvimento económico do concelho de Beja?
Acredito que os resultados serão visíveis nestes primeiros quatro anos. Vai ser possível assistir à concretização de alguns destes investimentos que nos irão deixar a todos agradavelmente surpreendidos. Acredito que vão começar a ser criados novos postos de trabalho efetivos.
O atual mandato começou da melhor forma possível, com a Hi Fly a anunciar um primeiro investimento em Beja. Qual é o ponto de situação desse investimento?
Nas primeiras três semanas de mandato reunimos três vezes com os responsáveis da Hi Fly, e o processo encontra-se em velocidade cruzeiro. O hangar está a ser construído em Inglaterra e as previsões apontam o inicio da sua montagem, em Beja, para os meses de Abril ou Maio. As previsões da empresa apontam para que a instalação fique concluída até ao final de 2018. Sabemos que a Hi Fly está a trabalhar de forma muito próxima com o IEFP, na tentativa de recrutamento de técnicos de manutenção de aeronaves, uma vez que necessitam de 150 profissionais. As pessoas a recrutar terão que possuir o 12º ano de escolaridade e ter conhecimentos de matemática e inglês, e é aqui, nestas habilitações, que os responsáveis pelo recrutamento têm encontrado algumas lacunas que dificultam o preenchimento das vagas existentes. A Hi Fly dará toda a formação técnica aos futuros funcionários que irão operar na manutenção de aeronaves, uma formação de 18 meses, dos quais os primeiros nove serão feitos em contexto de pura aprendizagem e depois começam a trabalhar diretamente nas aeronaves. Vamos receber, para manutenção, aviões Airbus A330 e A340.
Este primeiro projeto da Hi Fly é muito importante para Beja, por ser a primeira vez que os cidadãos do concelho, e também do país, vão poder compreender que o Aeroporto de Beja é um projeto viável. Não podendo ser um Aeroporto dirigido, sobretudo, ao tráfego de passageiros (que pode bem ser uma atividade complementar), é bom ver que estamos agora a dar os primeiros passos relacionados com a manutenção de aeronaves. As oficinas de manutenção de aviões poderão ser, a breve prazo, uma componente muito importante do Aeroporto de Beja.
Existe ainda a possibilidade de alargar a manutenção aos aviões A380, que é um dos maiores aviões do mundo e ainda a possibilidade de construir um segundo hangar. Tudo isto são investimentos projetados pela Hi Fly.
Numa entrevista recente anunciou a intenção da autarquia em requalificar um edifício na Praça da República para, posteriormente, os futuros apartamentos virem a ser colocados no mercado de arrendamento. Este investimento pretende trazer as famílias para dentro do centro histórico?
Estamos a falar, num primeiro momento, numa ação que decorrerá na Praça da República, mas que pode depois estender-se para outras artérias, nomeadamente a Rua do Touro, a Rua da Cadeia Velha e outras.
Na Praça da República, a ideia será intervir num edifício que foi doado à Câmara Municipal de Beja a meio do mandato anterior. Aquilo que esteve previsto era a criação de um grande centro de serviços, com a criação de 80 postos de trabalho. Nós deixámos cair esse projeto e candidatámo-lo à reabilitação para habitação no centro da cidade.
Nós entendemos que com serviços que encerram às 16 horas, as pessoas vão embora e deixam deserto o centro da cidade. Nós tencionamos devolver alguma vida ao centro histórico, procurando instalar aqui famílias. A tipologia de apartamentos prevista para este projeto não supera o T2. Estaremos a falar de estúdios, T1 e T2 para famílias não muito numerosas, a preços não especulativos. No fundo queremos dar vida ao centro, aumentando o número de pessoas que aqui vivem.
Com a sua chegada à presidência da autarquia, o Município começou a utilizar um novo slogan: Beja, o Centro do Sul. Quer explicar-nos este novo conceito...
É um conceito global. É um conceito de território em primeiro lugar, porque estamos entre Lisboa e o Algarve, estamos entre a Costa Alentejana e a fronteira de Espanha. Geográfica e objetivamente somos o Centro do Sul.
Do ponto de vista económico é a afirmação mais difícil, mas estamos apostados em crescer nesta área.
E depois, também, o Centro do Sul do ponto de vista da dinamização cultural, das nossas tradições, dos nossos saberes e dos nossos sabores. Queremos marcar uma diferença que seja qualitativa. Precisamos de nos afirmar pela positiva, com eventos diferenciadores e únicos que façam as pessoas vir a Beja.
Por falar em eventos diferenciadores, em Junho a cidade acolhe pela primeira vez o Festival B...
Já temos eventos que nos diferenciam. É o caso das Palavras Andarilhas, do Festival de Banda Desenhada, o FITA – Festival Internacional de Teatro do Alentejo, entre outros.
O evento inovador que lançamos é o Festival B, que vai aliar vários patrimónios da humanidade num só evento que decorrerá, este ano, a 22, 23 e 24 de Junho.
Obrigada, Senhor Presidente.